sexta-feira, 1 de julho de 2011

Lesão complexa de cotovelo na prática de "squash".

Paciente masculino de 62 anos, coronel  do Exército Brasileiro, natural de Minas Gerais, da cidade de Juiz de Fora, estava de férias no Rio de Janeiro e  teve queda jogando squash no Clube Militar. Deu entrada na emergência do HCE com dor, edema, impotência funcional no cotovelo direito e ferida corto-contusa de cerca de 1cm face ulnar proximal do antebraço, com crepitação local e goticulas de gordura na ferida.
Exame neurovascular distal sem alterações.
O raio-x de entrada.

Raio-x em perfil no atendimento inicial na emergência.
 Fratura- luxação cominutiva da cabeça do rádio; fratura na diáfise proximal da ulna, cujo foco apresentava contato com meio externo, configurando uma exposição em grau I ( fratura exposta ) e luxação úmero-ulnar. Com isso, nos deparamos com uma lesão complexa e grave do cotovelo.
Feita a limpeza mecâno- cirúrgica imediata e teste de estabilidade do cotovelo, sob narcose. Optada a fixação temporária, da articulação úmero-ulnar com fios percutâneos de Kirschner.


Raio-X pós-op da 1ª cirurgia. Paciente ficou internado em uso de antibioticoterapia venosa para profilaxia de infecção, tratamento da dor e observação do ferimento.
Após 15 dias, sem apresentar sinais de infecção, foi reoperado para osteossíntese definitiva.

Raio-x em AP pós-op da 2ª cirurgia.



Raio-x em perfil pós-op da 2ªcirurgia.

Nesta 2ª cirurgia, foi feita abordagem à ulna, com redução e fixação da fratura com placa tipo DCP e parafusos corticais. Usado manguito pneumático.
Feita abordagem póstero-lateral, tipo Kocher e cupulectomia radial.
Os fios colocados na 1ª cirurgia foram retirados para avaliar a articulação úmero-ulnar, que permanecia instável. Colocados novos fios de Kirschner percutâneos na mesma., que acabaram entortando, logo após a recuperação do ato anestésico, como se pode ver na radiografia em perfil acima. Feito fechamento das partes moles, curativo e colocada tipóia de velcro.

Paciente evoluiu satisfatoriamente, tendo alta hospitalar após mais 5 dias. Estava apresentando neuropraxia distal dos nervos mediano e ulnar observada no exame clínico. Função dos nervos radial e interósseo posterior preservadas. Teve boa cicatrização de partes moles, sem infecção e, após mais 20 dias, foi feita avaliação sob narcose com retirda dos fios de Kirschner e o cotovelo não luxava mais.Estava com dimiuição importante da flexo-extensão. Estava, então com 40 dias de trauma. Deu início a fisioterapia. Após mais 1 mês, voltou ao ambulatório e estava com melhora lenta e gradual dos movimentos e da neuropraxia. Estava satisfeito. Tem cerca de 40 dias que não o vejo.

   Esta observação que segue é mais para os milicos em geral, principalmente do quadro de saúde.Este coronel da reserva é bastante simpático. Um pouco ansioso, como são a maioria dos militares. A relação médico-paciente num hospital militar é um pouco diferente que no meio civil, principalmente num caso como este. Um coronel de Armas é um oficial bem mais graduado que um capitão médico. Então, era às vezes um pouco engraçado eu, capitão tendo que chamar a atenção de um coronel. Portanto, caros jovens colegas médicos militares. Vaí um "bizu". Somos militares, sim. Seguimos a hierarquia e a disciplina, sim. Sim, senhor! Não, senhor! Mas, antes de nos tornarmos militares, estudamos Medicina. Aprendam a se impor com respeito, ética, profissionalismo e, óbvio, com disciplina. Assim, como eu não tenho a pretensão da marchar como um infante, este mesmo infante não vai fazer operar uma lesão grave como esta.  Não estou querendo fazer nenhuma revolta, pelo amor de Deus! O recente caso dos Bombeiros aqui no Rio foi um pouco desconfortável e até estourou na mídia. Eu sou somente favorável à conscientização. Puxa , este cara tá viajando... Ah, dá um desconto. Deixa eu divagar um pouco neste blog. . Gostei de tratar este coronel. O respeito foi mútuo.  Em forma de agradecimento, ganhei um delicioso e tradiciona queijo minas de Juiz de Fora. Bom... Seria interessante se eu encontrasse este paciente e saber como ficou este cotovelo. Acho difícil ele voltars  a jogar squash. Quem sabe eu encontro com ele por aí e ele responde minha continência de volta ou aperta minha mão? Vou aproveitar um pedir uns pães de queijo lá de Minas. Espetáculo!

 Fiquem à vontade para discutirem condutas, fazerem sugestões e críticas construtivas.

Agradecimentos ao Dr. Vinícius Braz- Médico-Residente do 1º ano ( R1 ) do Serviço de Ortopedia do Hospital do Andaraí, ex-interno da Ortopedia do HCE. Valeu, irmão!

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